A economia de um país é composta por diversos setores, e algumas nações se destacam em áreas específicas. A Alemanha, por exemplo, é referência na indústria, enquanto China e Estados Unidos possuem economias tão amplas que conseguem ser eficientes em vários setores. No Brasil, a alcunha de país do agro se popularizou, mas será que o agronegócio é, de fato, o pilar central da nossa economia? Vamos analisar sua participação e importância.
O Brasil é, de fato, o país do agro?
Dentro os três setores da economia: Primário, Secundário e Terciário, no Brasil há uma divisão extremamente desigual da dominância de cada uma dessas categorias no agregado geral.
Pois bem, a composição total do PIB brasileiro tem a seguinte divisão:
- Setor Primário (Agropecuária): 6,6%
- Setor Secundário (Indústria): 22,5%
- Setor Terciário (Serviços): 70,9%

Ela apresenta, à primeira vista, um cenário favorável ao setor de serviços e, em segunda posição, o setor industrial. Porém, essa composição pode esconder uma realidade diferente.
Nos últimos 30 anos, apenas um setor apresentou um crescimento significativo de produtividade: o agronegócio. Enquanto a indústria encolheu e os serviços permaneceram praticamente estagnados, o setor agropecuário demonstrou um desempenho surpreendente.
Produtividade: O Diferencial do Agro
Conforme o estudo da Fundação Getúlio Vargas a seguir, o crescimento de produtividade médio de 1996 à 2020 anualizado por cada trabalhador dos três diferentes setores da economia foi:
- Setor Primário (Agropecuária): +5,8%
- Setor Secundário (Indústria): -0,4%
- Setor Terciário (Serviços): +0,1%

Esses números revelam um cenário preocupante para a indústria: os trabalhadores precisam se esforçar mais para produzir a mesma quantidade de riqueza de décadas atrás. Isso impacta diretamente a competitividade do Brasil no mercado global. Enquanto isso, o setor de serviços manteve um crescimento marginal, acumulando apenas 2,4% de aumento no período analisado. O que é baixo, mas é melhor do que cair 9,6% como a indústria.
No entanto, o setor do agronegócio teve sua produtividade aumentada em 139,2%, algo incrível. Em outras palavras, um trabalhador do setor agropecuário hoje produz em cinco meses o que produziria em um ano inteiro no passado. Mas por que esse crescimento foi tão expressivo?
Contudo, quais os motivos desse enorme aumento? Isso é realmente bom para a economia brasileira? E devemos olhar melhor para as empresas do agronegócio que podemos investir?
Você pode conferir a seguinte matéria também: Vale a pena investir no agro brasileiro?
Os motivos do estirão
Inicialmente, podemos citar a institucionalização do lobby do agronegócio na política brasileira. Ela ocorre principalmente através da Frente Parlamentar do Agronegócio (FPA), ou Bancada do Agro, que defende os interesses do setor assumidamente desde de 1995, com ata assinada dos deputados e senadores integrantes. Este grupo possui membros em todos os setores de administração pública, desde municípios até o Congresso Nacional, favorecendo o setor em suas decisões.

Realmente, o país do agro
Uma das principais realizações deste grupo são projetos como o Plano Safra, que cria incentivos à empresas do agronegócio, como concessão de crédito subsidiado e fornecimento de ajuda técnica. Apesar de ser uma política construtiva no contexto nacional, os recursos direcionados para tal empreendimento podem ser exagerados. Como por exemplo, no site do Ministério da Fazenda podemos conferir que somente o valor do Plano Safra 2024/2025 supera R$400 bilhões, esta quantia é quase duas vezes o destinado à saúde no Brasil, que é de R$ 218,5 bilhões.
Este grupo, com seus enormes incentivos, consegue garantir crescimentos constantes do seu setor apadrinhado, fazendo do Brasil o país do agro. Afinal, com toda a ajuda da máquina pública, quem não iria se tornar mais produtivo?
No entanto, tais práticas não deixam de gerar malefícios à sociedade brasileira.
O impacto do agro no orçamento público
O Brasil tem um orçamento federal de R$ 5,4 trilhões em 2024, mas 92% desse valor está comprometido com despesas obrigatórias, como Previdência Social, pagamento de juros da dívida e salários do funcionalismo público. Isso significa que apenas uma pequena parcela pode ser alocada para investimentos diretos.
Diante disso, os R$ 400 bilhões destinados ao agronegócio representam um montante significativo, levantando o debate sobre a priorização de recursos. O país do agro recebe um volume expressivo de incentivos, mas será que essa distribuição é a melhor estratégia para o desenvolvimento econômico do Brasil?
O Brasil consolidou sua posição como um dos líderes globais do agronegócio, e a produtividade do setor é inegável. No entanto, a dependência de incentivos públicos e o impacto no orçamento nacional precisam ser analisados com mais profundidade. O desafio está em equilibrar os interesses do país do agro com o desenvolvimento de outros setores fundamentais para a economia brasileira.
Quer saber mais? Confira esta análise sobre se vale a pena investir no agro brasileiro.
